Coração de vidro

A Urdidura e a Trama

A trama passa por cima e por baixo dos fios tensionados da urdidura. Transformam- se em tecido, à medida que se juntam. 
Tecer: entrelaçar metodicamente. Ato de produzir manipulando fios entre a urdidura e a trama. 

Minha tia, minhas avós, minha mãe costuravam. Pedaços de linha e tecidos faziam parte dos meus brinquedos. Tudo era difícil. Lembro-me bem que vovó guardava os carretéis vazios para juntar os restos de linha que sobravam. Os retalhos dos fios, amarrados por nós, iam montando as próximas costuras. As cores não combinavam, mas a estética era outra. Os alinhavos com pedaços de cores formavam uma linda amarração. Era outra visão da vida. Mamãe se orgulhava de desmanchar uma camisa inteira sem perder a linha e novamente a enrolava no carretel.

A avenca plantada na de lata de óleo vazia, papel crepom na beirada da prateleira e um pano de prato branquinho exibindo as costuras coloridas. Essa é a urdidura. A vida ia sendo tecida e meus olhos não escondiam o encantamento. Assim fui construindo a minha obra, com o que vivi, com a urdidura que estava disponível. Cacos de louça viravam panelinhas, folhas de bananeiras eram toalhas de mesa, a frigideira era de lata de goiabada onde fervíamos a água com arroz no fogo de lenha. 

Assim alinhavo a minha obra. Minha atração por objetos descartados e sua ressignificação fazem parte de toda essa costura. Juntar pedaços, colar e transformar depois, cantar sobre eles e lhes restituir a vida. 
Pama Loiola

leia o texto curatorial de Andrés Hernandez AQUI

silvia ribeiro

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